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Dia do Trabalho 2025: os novos contornos e contradições do mercado de trabalho brasileiro

Transformações, desafios e novas dinâmicas moldam o presente e o futuro das relações de trabalho no Brasil em meio a demissões voluntárias

Transformações, desafios e novas dinâmicas moldam o presente e o futuro das relações de trabalho no Brasil em meio a demissões voluntárias, crescimento do MEI, reformas legais e demandas por saúde mental e inclusão.

Neste 1º de maio, o Brasil se vê diante de um mercado de trabalho em plena transformação. Mais do que uma data comemorativa, o Dia do Trabalho de 2025 convida a uma análise profunda sobre os caminhos que vêm sendo traçados por empresas, governos e trabalhadores em meio à digitalização, ao avanço da informalidade e à busca por equilíbrio entre inovação e proteção social.

Nos últimos anos, o país testemunhou uma série de mudanças no comportamento profissional e na legislação trabalhista. O fortalecimento do empreendedorismo individual, a escalada das demissões voluntárias, a regulamentação de novas formas de vínculo e a crescente valorização da saúde mental no ambiente corporativo estão entre os temas que marcam o cenário atual. O Mundo RH reuniu dados, análises e perspectivas que ajudam a compreender os rumos do trabalho no Brasil contemporâneo.

MEI em evidência: entre a autonomia e a precarização

Levantamento da empresa de inteligência de dados Timelens aponta um crescimento de 22% nas buscas pelo termo “MEI” em 2025, após dois anos consecutivos de queda. Termos como “como abrir MEI gratuito” e “como abrir MEI pelo celular” lideram o ranking das pesquisas, refletindo o desejo por independência e digitalização.

Porém, o aumento da procura também escancara a realidade de muitos trabalhadores que recorrem ao microempreendedorismo por ausência de oportunidades formais. Para especialistas, o crescimento do MEI é impulsionado por uma combinação de necessidade e busca por flexibilidade, mas pode esconder uma pejotização disfarçada, com perda de direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Demissões voluntárias e o desejo de novos caminhos

Dados do FGV Ibre mostram que, no primeiro bimestre de 2025, 1,6 milhão de brasileiros pediram demissão de seus empregos. É o maior índice da série histórica. Jovens entre 18 e 29 anos lideram esse movimento, em busca de mais propósito, flexibilidade e qualidade de vida.

Essa tendência se reflete na internet. Segundo a plataforma Onlinecurriculo, as buscas por “demissão” aumentaram 173% entre março de 2024 e março de 2025, totalizando mais de 819 mil consultas. Dúvidas como “como pedir demissão?”, “quais os meus direitos?” e “tenho direito ao FGTS?” revelam uma população profissional em busca de transições seguras, mas ainda imersa em inseguranças jurídicas e financeiras.

Reformas trabalhistas sob escrutínio

Desde 2024, o país implementa mudanças na legislação que visam adaptar o mercado à nova realidade do trabalho. Entre as principais novidades estão a regulamentação do trabalho remoto, a ampliação do banco de horas, a valorização de acordos coletivos, o estímulo à formalização de profissionais por aplicativo e a adoção da semana de quatro dias sem redução salarial.

Essas medidas buscam atualizar as normas às dinâmicas contemporâneas, mas levantam questionamentos sobre os limites entre modernização e precarização. Juristas e representantes sindicais alertam para o risco de que, sob o argumento da flexibilidade, se flexibilizem também os direitos.

NR-01 e a saúde mental como prioridade legal

A partir de 26 de maio de 2025, entra em vigor a nova versão da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-01), que trata da obrigatoriedade do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). Pela primeira vez, a norma inclui fatores psicossociais, como assédio, estresse e sobrecarga, como riscos legais que devem ser mapeados e prevenidos pelas empresas.

A medida representa um avanço na valorização da saúde mental e impõe às empresas o desafio de repensar práticas e lideranças. A expectativa é que, ao lado da prevenção, o bem-estar emocional se torne eixo estratégico de produtividade, engajamento e retenção de talentos.

Inclusão de pessoas com deficiência ainda é desafio

Apesar da existência da Lei de Cotas (nº 8.213/91), que completou 33 anos, a inclusão de pessoas com deficiência (PcDs) no mercado formal ainda é limitada. Apenas 1,1% das vagas formais são ocupadas por esse grupo, que representa mais de 8% da população, segundo o Ministério do Trabalho.

A resistência de empresas, a falta de informação e a ausência de estrutura adequada ainda impedem avanços significativos. Ferramentas como a da startup Inklua, que conecta candidatos PcDs a vagas inclusivas, surgem como alternativas importantes, mas a efetividade da inclusão ainda depende de mudanças culturais e políticas mais incisivas.

Vínculos não típicos ganham espaço

Dados do Novo CAGED mostram que mais de 4,9 milhões de trabalhadores brasileiros estão inseridos em vínculos não típicos, como contratos temporários, intermitentes, de aprendizagem ou com jornada reduzida. O crescimento foi de 6,74% em um ano e já representa mais de 10% do total de vínculos formais no país.

A expansão desses modelos tem sido impulsionada por setores como comércio, serviços e agropecuária, mas levanta discussões sobre a estabilidade desses trabalhadores. Especialistas defendem que a flexibilização dos contratos deve vir acompanhada de garantias mínimas e inclusão em políticas públicas de proteção social.

Livros indicados por líderes inspiram o futuro do trabalho

Com o objetivo de fomentar a reflexão sobre carreira, propósito e inovação, cinco executivos de empresas como Infobip, Appdome, Fair Fashion e ManageEngine compartilharam leituras que moldam suas visões sobre liderança e cultura organizacional. Os títulos sugeridos incluem:

  • Steve Jobs, de Walter Isaacson;
  • Multiplicadores, de Liz Wiseman;
  • Inevitável, de Kevin Kelly;
  • Você é o que você faz, de Ben Horowitz;
  • Deep Survival, de Laurence Gonzales;
  • Google: A Biografia, de Steven Levy.

As obras reforçam a importância do autoconhecimento, da capacidade de adaptação e da criação de ambientes corporativos mais humanos, inovadores e alinhados com os valores contemporâneos.

Reflexão para além da data

O Dia do Trabalho de 2025 evidencia uma sociedade em movimento, em busca de novos pactos laborais e formas de equilibrar liberdade, segurança, bem-estar e desenvolvimento. O Brasil caminha para um modelo híbrido, onde tecnologia, relações flexíveis e consciência social precisam conviver de forma ética e equilibrada.

Mais do que celebrar, é preciso reconhecer os desafios e construir soluções que respeitem o papel social do trabalho. O futuro passa pela escuta ativa, pela liderança responsável e pela coragem de transformar o ambiente profissional em um espaço de dignidade, crescimento e pertencimento.

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